terça-feira, 31 de março de 2015

"Tô pagano..." e a sua responsabilidade

As pessoas são, realmente, seres muito interessantes.

Vem gente procurar nossos serviços pelos mais variados motivos. De frieira no pé a câncer, passando por todo tipo de condições, patológicas ou não, que você possa imaginar. Isso me deixa muito feliz, pois mostra que estão dando votos de confiança ao nosso trabalho, mas também me fez identificar um tipo de paciente muito especial, com uma síndrome bem específica: a "Síndrome de Lady Kate".

Pra quem não sabe ou não se lembra, esta é uma personagem humorística da TV que usava o bordão "tô pagano..." pra absolutamente tudo. Na visão dela, como tinha dinheiro e estava pagando, tudo tinha que se resolver.

Pois é. Tem pessoas assim no nosso dia-a-dia também. São aquelas que acreditam que o fato de estarem pagando uma consulta, pagando pelos seus suplementos ou medicamentos, já garante o sucesso do tratamento. Vêem o processo de resgate e manutenção da saúde como a compra de um sapato ou brinquedo, com todas as implicações e soluções derramadas sobre o profissional que as assiste e/ou os remédios e suplementos prescritos.

Pra estas pessoas, eu tenho uma "novidade": não é assim que funciona.

De nada adianta ser atendido por um bom profissional, que faça uma prescrição acertada se você, por exemplo, não fizer uso dos itens prescritos. Simples, né? O médico te passa um medicamento e você não toma. O nutricionista orienta sua dieta e você não segue. O educador físico te diz que exercícios fazer e você não faz. Adianta alguma coisa? O simples fato de pagar estes profissionais e seus tratamentos garante algum resultado. É claro que não!

Se você não vai pra cima, toma o processo nas suas mãos e começa a ter atitudes de acordo com o que foi orientado, nunca vai alcançar nenhum resultado, POR MAIS CARO QUE PAGUE! Entenda sempre que este protagonismo é FUNDAMENTAL. Sua saúde é sua responsabilidade, pessoal e intransferível. O máximo que qualquer profissional de saúde pode fazer por você é orientar e sugerir atitudes que te trarão benefícios, mas VOCÊ precisa executá-las.

Além de tudo isso, também existe uma outra questão. O tempo necessário para alcançar as metas é extremamente variável e individual. O que foi bom pro seu irmão ou pra sua vizinha não será, necessariamente, bom pra você. Isso é óbvio... mas então por que se insiste tanto nas comparações?! "Fulana de tal perdeu X quilos e eu não!" Vamos parar com isso? Assim como os esforços são individuais, os resultados são mais ainda. O seu é seu, o do outro é dele. Aprenda a se comparar com seu próprio estágio anterior, avaliando seu desenvolvimento sobre si mesmo(a), vencendo suas próprias barreiras pessoais.

Pra completar, cuidado com promessas de resultados muito fáceis, rápidos e sem esforços, que costumam estar pautados em substâncias milagrosas ou dosagens exageradas e inoportunas de hormônios. Uma coisa é uma reposição, outra coisa é o uso dos hormônios com outras finalidades. Quem quiser usar, que use com consciência, sabendo o que está fazendo e acompanhado por um profissional que assuma também sua responsabilidade, fazendo a melhor adequação individual possível para o processo. Não entre enganado(a), nem finja estar sendo enganado(a). Tome pra si a responsabilidade de arcar com as consequências e, na dúvida, NÃO FAÇA.

Não se paga, simplesmente, por um resultado positivo, Lady Kate. Isso se constrói. Isso se CONQUISTA.

Conquiste seu sucesso!

segunda-feira, 9 de março de 2015

Fazer o bem faz bem OU como contribuir para um abrigo de animais pode fazer bem pra você?

Você sabia que fazer o bem faz bem?

Muitos estudos demonstram que atitudes vistas como positivas nos ajudam a melhorar a saúde. O nosso cérebro é tremendamente sensível a acontecimentos bons e ruins e responde diretamente aos resultados de nossas atitudes. Ter atitudes positivas leva a uma saúde melhorada, disso não temos mais dúvidas. Previne doenças cardíacas, neurológicas, psiquiátricas e talvez até o câncer.

Quando pensamos em atitudes positivas, é fácil imaginarmos a ajuda a crianças carentes, idosos em necessidade, àquele rapaz que pede dinheiro na sinaleira. Tudo isso é muito importante e nós devemos, de fato, buscar maneiras de ajudar a todos eles, de acordo com nossas possibilidades.

Agora, mudando um pouco de foco, você sabia que ajudar os animais pode ser igualmente valioso para sua saúde? A quantidade de animais abandonados em nosso país é enorme e crescente. Iniciativas de abrigo, cuidados e adoção destes pequenos seres vivos são muito valiosas e merecem toda a nossa atenção e apoio tanto quanto quaisquer outras voltadas a humanos. Os animais não são culpados pela irresponsabilidade de seus donos e não devem pagar por isso. Além do mais, animais de rua abandonados são foco de desenvolvimento de doenças que podem afetar a todos nós, sem contar o fato de que contribuem para a sujeira e desordem urbanas.

Fora tudo isso que já citei, há um fato ainda mais importante: o contato com os animais faz bem aos seres humanos e aos próprios animais. Não é à toa que temos animais de estimação e muitos estudiosos do desenvolvimento humano atribuem, à parceria com os lobos/cachorros, boa parte do nosso sucesso enquanto espécie que se desenvolveu e prosperou no planeta. Há também o uso dos animais para diversas funções policiais, guia, de salvamento e até terapêuticas. Eles são fantásticos aliados no tratamento de diversas doenças psíquicas, indo da depressão até quadros de autismo. Os bichinhos são simplesmente fenomenais.

Uma instituição que recolhe, cuida e realoca, com muito carinho e cuidado, animais desprezados ou doados, precisa de muito auxílio, de diversas formas. A ABPA, Associação Brasileira Protetora dos Animais, é uma destas instituições e nós, da Sallus, a escolhemos para fazer a nossa parte nesta causa. Eles mantém uma feirinha de adoção e bazar na praça Ana Lúcia Magalhães, na Pituba, todo domingo das 9h às 13h e respondem pelo e-mail adote@abpabahia.org.br. Há MUITAS maneiras de ajudar. Vejam na página http://www.abpabahia.org.br/ e ajudem como puderem.

Todo ser vivo merece nossa atenção e respeito.

Vamos juntos com estes fiéis aliados!

terça-feira, 3 de março de 2015

E o leite de vaca? Presta ou não?

Não tenho a intenção de participar da polêmica, mas acredito que preciso me posicionar sobre este tema para que vocês, que seguem meu trabalho, saibam o que penso sobre ele.

O leite é um produto consumido pelos seres humanos há relativamente pouco tempo. Tudo indica que começamos a utilizá-lo há algo em torno de 10.000 anos. Parece muito tempo mas, em termos evolutivos, é um pouco antes de ontem. Acredita-se que contribuiu positivamente para nosso estabelecimento em povoados, com a criação dos rebanhos, diminuindo nossa necessidade de viagens de caça. Beleza. Parece que ajudou muito.

Desconsiderando, agora, estas questões evolutivas, muita gente briga por causa do leite. Desde pesquisadores renomados até curiosos de outras áreas do saber, muita gente opina sobre ele. Há muito tempo eu busco alcançar uma idéia concreta sobre isso e vou colocar ela pra vocês aqui. Eu costumo pedir aos meus pacientes que não utilizem o leite em geral, mas não crio restrições aos derivados desde que o paciente não apresente problemas específicos com seu consumo.

Quando falo do leite, estou me referindo, especificamente, ao leite de vaca. Este é o mais consumido mundialmente e sobre ele recai nossa busca por entendimento. Este produto animal tem uma composição nutricional bem interessante. Em um copo de 200ml temos, aproximadamente, 10g de açúcares, 6g de proteínas, 6g de gorduras (sendo 2,4g de gorduras insaturadas e, na fração das saturadas, boa parte em ácidos graxos de cadeia curta e média) e 1,4g de minerais diversos. Desta "secreção nutritiva" são feitos os mais diversos produtos, como manteiga, queijos, iogurtes, coalhadas, suplementos alimentares e creme de leite. Pronto. É disso que estamos falando e considerando, fundamentalmente, o leite de vacas criadas A PASTO E SEM RAÇÕES ESQUIZOFRÊNICAS BASEADAS EM GRÃOS E ADITIVOS MINERAIS. É um produto, sem dúvida, nutricionalmente denso, mas isso não o torna ideal para o consumo humano.

Do site Crohnecolite.com.br
Observe, por exemplo, uma coisa muito importante: NÃO EXISTE ALERGIA A LACTOSE. A lactose é o açúcar existente no leite. É um dissacarídio composto pela associação entre 1 molécula de glicose e 1 molécula de galactose. Sendo um açúcar, não há como criarmos alergia a ela. O que ocorre, no que se refere à lactose, é que uma pequena fração das pessoas não possui a enzima necessária para realizar a digestão da lactose. Esta enzima se chama lactase. Estas pessoas sentem-se muito mal ao consumir leite, podendo apresentar uma série de sintomas como gases, indigestão, dores de cabeça, dores abdominais, vômitos e diarréia. Enquanto crianças, a maioria das pessoas apresenta uma quantidade boa e eficiente de lactase mas, quando atingem a vida adulta, a maior parte destas pessoas muda de uma boa quantidade de lactase mais eficiente para uma menor quantidade de lactase menos eficiente, o que significa que quase todos os adultos vão ter ALGUM GRAU de intolerância à lactose, o que não significa doença, mas pode causar sintomas menores. Isso explica o porquê de grande parte das pessoas se beneficiar de uma dieta com restrição de lactose.

Vale lembrar que os leites ditos "sem lactose" nada mais são do que leite comum tratado com lactase, ou seja, leite com glicose e galactose. Continua tendo açúcar e, portanto, não é adequado nem para uma dieta Low-Carb nem para uma Paleo ou Primal.

O que pode, de fato, causar alergias ou, de outras maneiras, ser imunogênicas, são as proteínas do leite. Ricas em aminoácidos de cadeia ramificada (BCAA), tanto a lactoalbumina (do soro do leite) quanto a caseína (da parte sólida) são proteínas de alto valor biológico. A caseína costuma existir em 2 formas, a A1 e a A2, sendo a forma A1 a verdadeiramente problemática. Quando se quebra, no estômago, a forma A1 gera um subproduto conhecido como CASEOMORFINA, um opióide, que tem efeitos viciante e de alteração de comportamento e parece estar relacionado com a piora do autismo. As vacas holandesas, por exemplo, geram leite com 50% de fração A1, as Jersey 25% e o Gir leiteiro gera leite com quase totalidade de caseína A2, sendo muito melhor para o consumo humano. Na Nova Zelândia e na Austrália estes fatos já são considerados e é incentivada a produção do leite com caseína A2 havendo, inclusive, um certificado para ele. Na Nova Zelândia e na Austrália...
Gir Leiteiro - esse é do bão!

Considerando todos estes fatos, consumir leite do gado correto, criado A PASTO, SEM RAÇÕES ESQUIZOFRÊNICAS, pode não ser tão ruim. Eu ainda prefiro utilizar apenas os derivados, principalmente nas suas versões integrais, pois a retirada da lactose da alimentação tem se mostrado benéfica na maioria dos casos. Ainda não temos como ter certeza sobre qual caseína estamos ingerindo, aqui no Brasil. Espero que, um dia, isso mude.

Pra terminar, aproveito fragmentos do texto do Dr Souto, cujo link postei no FaceBook também:

Dairy and Cardiovascular Disease: A Review of Recent Observational Research
(...)This was in contrast to the findings reported from a prospective study of Caucasian American adults in which it was observed that women who reported “nearly daily” low-fat cheese and fat-free milk consumption had an increased incidence of CHD compared to those who reported “rarely/never” consuming low-fat cheese and fat-free milk.This was a surprising observation in light of the fact thatthere was no significant association between total dairy intake and risk of CHD in this population. The results of these studies indicate the complexity of dairy foods and the differences in CVD risk depending upon the type of dairy food consumed. Whereas total dairy and cheese reportedly had inverse relationshipswith CVD riskbutter (as a spread) was associated with disease but total butter consumption was not.

Tenho vontade de gritar. Sacudir os pesquisadores pela lapela. Parece que os dados precisam de uma melancia pendurada no pescoço para serem notados!! Resumindo o texto acima:

1) O consumo diário de laticínios DESNATADOS está associado a doenças cardiovasculares;
2) Laticínios com gordura e queijo são inversamente associados com doença cardiovascular (ou seja, quanto mais se consome, MENOS doença cardiovascular se tem);
3) Manteiga, quando usada para espalhar no pão, está associada com doença cardiovascular;
4) Manteiga, de uma forma geral, não está associada com doença cardiovascular.

Até agora, portanto, prefiro que você use queijos, iogurtes, creme de leite e manteiga, mas evite o leite. Quem sabe, com o tempo, a humanidade utiliza seu poder transformador para aproveitar esta interessante matriz alimentar de uma forma mais adequada, talvez através de manipulações genéticas ou de tratamento do leite de alguma maneira. Vamos ver. AINDA tenho alguma esperança nos homens.

Vamos em frente, transformando.

Aproveite para ler o excelente blog http://www.paleodiario.com/!