domingo, 30 de março de 2014

Deprimiu? Calma que tem jeito.

Acabei de ver uma reportagem sobre depressão na televisão. Eu sempre fico atento a estas reportagens pois as considero oportunidades valiosas de levantar este tema e aumentar, sempre que possível, o grau de esclarecimento das pessoas. Isso é importante.

O que quero trazer aqui é simples: o tratamento medicamentoso não é suficiente.

Isso mesmo. Não é suficiente mas, em muitos casos, é fundamental. De forma temporária ou, algumas vezes, mais definitiva, as medicações para tratar depressão têm evoluído muito e hoje, quando bem utilizadas, são extremamente valiosas nos tratamentos dos pacientes... mas não são mágicas. Podem executar muito bem suas funções se forem bem indicadas e tiverem o ambiente favorável para trabalhar.

Pense como se fosse semear alguma coisa. Você precisaria de boas sementes, correto? Vamos ver as medicações, bem indicadas, como estas sementes. Agora, além disso, você precisaria de um terreno adequado, de qualidade, com os nutrientes certos para o crescimento das plantes, certo? Este terreno é o organismo do paciente. Se o organismo não estiver suficientemente saudável, em termos de vitaminas, minerais e outros fatores de regulação interna, os medicamentos, não raro, não vão funcionar direito.

É uma ciranda de elementos que se interconectam. Triptofano, niacina, magnésio, riboflavina, inositol, colina, DHA, EPA, fosfatidilserina, zinco, selênio e muitos outros elementos estão envolvidos em processos que interferem diretamente na neuroquímica humana. A regulação da tireóide, das supra-renais e das gônadas também é fundamental. Sem tudo isso, uma tentativa de tratamento muito bem planejada pode ter seus resultados totalmente comprometidos.

Além dos elementos envolvidos, a forma como são metabolizados, que pode sofrer interferência de inúmeros fatores externos e genéticos, também é determinante para o resultado. É muita coisa!

Se você pensar que o sono, as relações interpessoais e os exercícios físicos também interferem em tudo, você vai chegar à conclusão de que os hábitos de vida, quanto mais saudáveis, mais contribuem para o sucesso do tratamento.

Dito tudo isso, vamos considerar o seguinte: será que dá pra tratar tudo isso unicamente com a assistência do psiquiatra?

Este profissional, árduo combatente das mazelas da mente humana, é fundamental para um tratamento bem executado, mas suas armas têm um alcance que guarda algumas limitações. Além da necessidade de todas as regulações acima citadas, as medicações não exatamente "tratam" o paciente, mas sim te dão a capacidade de alcançar a cura via psicoterapia. Entra em cena o profissional psicólogo.

É como se as medicações e o psiquiatra fossem as muletas e o gesso (fundamentais), mas a psicoterapia é o que faz realmente "o osso colar". Visto tudo o que citei acima, entram também, como complementos muito importantes para o tratamento, o nutricionista, o médico ortomolecular e o educador físico. Outros terapêutas costumam agregar ainda mais resultados positivos aos tratamentos.

Em resumo, o tratamento da depressão é melhor executado e alcança melhores resultados se for realizado de forma multidisciplinar. As múltiplas visões e ações dos profissionais envolvidos, cada um em sua área, trazem partes valiosas do sucesso do tratamento, ajudando no esforço de afastar as pessoas desta situação que envolve tristeza e dor, tanto de si mesmas quanto de suas famílias.

Vamos pensar em conjunto que o resultado é melhor.

"Andorinha só não faz verão."

sábado, 15 de março de 2014

Hormônios e câncer ou éguas prenhas, análogos sintéticos e vegetais X moléculas idênticas às nossas

Hoje eu fiquei feliz com uma coisa que vi na TV aberta!

Minha esposa me chamou a atenção para um quadro de um programa matinal onde um colega médico afirmou: "se hormônio causa câncer, por que você não teve com 25 anos de idade? Por que uma amiga sua não teve câncer de mama com 22?", ou algo parecido.

Sabe por que eu fiquei feliz? Porque é verdade! Toda vez que eu vejo afirmações onde se diz que hormônios causam câncer, muitas vezes proferidas (infelizmente) por colegas de profissão, eu fico me perguntando:

POR QUE, ENTÃO, NA FASE DOS PICOS HORMONAIS, EM TORNO DOS 22 ANOS, A INCIDÊNCIA DE CÂNCER É MUITAS VEZES MENOR DO QUE NA FASE DE FRANCA DEFICIÊNCIA HORMONAL, POR VOLTA DE 60 ANOS?

Não é uma pergunta interessante? A resposta é simples: PORQUE HORMÔNIOS NÃO CAUSAM CÂNCER. Só isso.

Os hormônios são "comunicadores" entre tecidos que apresentam funções específicas e tremendamente importantes na regulação de nosso organismo. O equilíbrio funcional de nossos tecidos depende do balé harmônico entre estes elementos e isto vai ocorrendo, de forma muito eficaz, até uns 22 anos. A partir daí, começamos a "descer a ladeira". Isso fica perceptível realmente lá pelos 30 ou 35 anos e a gente pensa: "é... tô ficando véio". Na deficiência dos hormônios, vamos envelhecendo e nossos tecidos começam a perder, cada vez mais, esta sintonia... esta harmonia que os deixava equilibrados intrinsecamente e entre si.

Vão surgindo cada vez mais disfunções e quedas de capacidade, de acordo com os cuidados e predisposições individuais, fazendo crescer vários riscos de doenças... inclusive o de câncer! Com a QUEDA dos hormônios, AUMENTA o risco de câncer. O que observamos, de fato, é isso. Não quero dizer que não haja, por exemplo, cÂnceres em crianças. O que estou afirmando é que a deficiência hormonal aumenta os riscos, e não a presença dos hormônios.

Independente do raciocínio acima, sempre vem o questionamento: "Mas doutor. Todo lugar que eu olho vejo alguém falar que hormônio faz mal. Inclusive médicos!". Infelizmente, isso ainda acontece muito. Por desconhecimento, muitos profissionais atribuem aos hormônios, normalmente em reposição, o risco de surgirem cânceres. Sabe por que isso acontece? Vou te contar uma historinha.

A primeira proposta de reposição hormonal que surgiu, de forma concreta, foi o PREMARIN. Era um complexo de estrogênios conjugados extraído diretamente da urina de éguas prenhas. Foi uma primeira tentativa, mas aumentava o risco de câncer de útero. Dava pra imaginar que fosse causar algum problema se considerarmos que os tipos e o equilíbrio entre os estrogênios de uma égua são muito diferentes que os de uma mulher. Depois dele, veio o PROVERA, que é o acetato de medroxiprogesterona, um análogo da progesterona natural (mas que não é progesterona em si). Aumentava o risco de câncer de mama.

Veja só que "legal"! A esta altura, a mulher podia escolher se queria ter um câncer de útero ou se preferia um de mama! Era só escolher a reposição hormonal correta! Constatado isso ao longo dos anos, como é que não iria suscitar um certo terror em torno das reposições?

Pra contrapor tudo isso, muitas propostas de reposições com hormônios vegetais foram propostas, mas sua potência sempre foi mais tímida e também há alguns outros riscos, mesmo que pequenos.

Resumindo tudo, mulher não deve receber hormônios de égua, nem análogos hormonais sintéticos e nem análogos hormonais vegetais, ou seja, deve receber hormônios DE MULHER. Pensando nisso, começaram a ser utilizados os hormônios bioidênticos (e isso já tem um tempão, viu? Não é nenhuma novidade, como gostam de dizer por aí.)

Os hormônios bioidênticos ou as bases micronizadas dos hormônios são moléculas idênticas às nossas e portanto, QUANDO UTILIZADOS DE FORMA EQUILIBRADA, TENDEM A CAUSAR MUITO MENOS PROBLEMAS. Na verdade, eles apenas reestabelecem aproximadamente os riscos normais que a pessoa tinha antes do decaimento hormonal. COMO QUALQUER MEDICAMENTO, SE UTILIZADOS DE FORMA INCORRETA E IRRESPONSÁVEL, PODERÃO GERAR PROBLEMAS (coloquei em maiúsculas pra ninguém deturpar o que estou escrevendo, OK?).

Vistos tudo isso eu afirmo pra vocês: procurem um profissional capacitado e façam suas reposições hormonais de acordo com cada caso. Não dá, definitivamente, pra copiar a receita da vizinha. As necessidades são individuais, pessoais e intransferíveis. Se você respeitar isso, terá muitas alegrias recuperando diversas capacidades que já foram reduzidas ou perdidas.

Pense nisso. Reflita bem e pense sempre que você merece aproveitar sua vida ao máximo e estes raciocínios e práticas podem garantir isso de forma muito mais plena.

Viva plenamente!

sexta-feira, 7 de março de 2014

Você lê seus exames laboratoriais?

Tem uma coisa que eu ouço muito no consultório:

"Pronto doutor. Trouxe os exames mas não se preocupe que eu nem abri."

Outras pessoas já se comportam de maneira diferente:

"Pois é, doutor. Eu li estes exames todos mas não adiantou. Não entendo nada disso mesmo..."

Não posso esquecer, de forma alguma, daquele diálogo às 3 horas da manhã:

"- DOUTOR!!! SOCORRO!!! PELAMORDEDEUS!!! EU ESTOU INFARTANDO!!!
  - Hein? Hã? Como? [digo eu, ainda acordando]
  - É SÉRIO, DOUTOR!!! PELAMORDEDEUS!!! EU VI NO MEU EXAME QUE TÔ INFARTANDO!!!
  - ... Como é? Como assim? Que exame?
  - Ai, doutor!!! Eu olhei o resultado do exame e fui no Google e..."

Não precisa continuar. Já deu pra perceber a tônica da história.

As reações de uma pessoa leiga, ao ler seus resultados de exames, podem ser as mais variadas. Isso é normal. Os resultados são dados em laudos que só podem ser interpretados por profissionais qualificados, capazes de avaliar e ponderar sobre os resultados para chegar a conclusões úteis sobre o caso do paciente, associando estes dados às informações clínicas colhidas na consulta. Atualizar-se quanto a tudo isso é dever do profissional que se presta a fazer uso dessas ferramentas como forma de avaliar melhor seus pacientes.

Agora vem a pergunta: será que isso deve te desencorajar a ler os resultados de seus exames? Minha resposta é: depende de você. A rigor, a posse dos resultados dos exames é daquele que forneceu o material biológico para realização dos testes, ou seja, DO PACIENTE. Acredite. O profissional que solicitou os exames NÃO É DONO DOS RESULTADOS. O paciente é o único dono e deve ser consultado, inclusive, se quer ou não que sejam lidos (sei que isso parece ilógico, mas é verdade). Pense direitinho em que tipo de pessoa você seria naqueles 3 casos lá de cima e decida se lê ou não (e assuma as consequências). Não esqueça, entretanto, de me fazer um favor: não tire conclusões sem consultar o profissional que te pediu os exames, OK? (Aproveite e dê uma lida em O que é normal?)

Trago outra observação para você. Há, entre os profissionais da área de saúde, uma idéia de que pedir poucos exames seria sinal de exatidão ou de maior capacidade de avaliação clínica. Nos dias de hoje, não vejo lógica nisso e acredito que, sabendo analisar e relacionar os diversos exames disponíveis, podemos chegar a muitas conclusões interessantes que fugiriam a uma análise mais simplista. A clínica é soberana, afinal, tratamos pessoas e não resultados numéricos de testes, mas os exames complementares podem ajudar muito. Basta saber, de fato, lê-los e relacioná-los, e isto é um dever do profissional.

Converse com quem te pediu exames e peça esclarecimentos sobre os resultados. Peça que seja feita uma exploração bem criteriosa e saiba que, algumas vezes, serão realizados exames que não são cobertos por convênios. Pense sempre no benefício que uma avaliação bem completa poderão te trazer. Afinal de contas, quem quer contar com a sorte e a adivinhação?

Vamos buscar pistas com responsabilidade e respeito.