quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Sem novas alternativas concretas para emagrecimento. Por que e até quando?

Parei pra ler uma reportagem no site da Veja falando sobre as consequências da proibição, ano passado, pela ANVISA, da venda de anorexígenos (remédios inibidores de apetite) no Brasil. Se quiser, dê uma olhada em http://veja.abril.com.br/noticia/saude/um-ano-apos-proibicao-dos-emagrecedores-pacientes-continuam-sem-alternativas-para-perder-peso. Eu já me manifestei sobre o tema na época do ocorrido, como podemos ver em Proibir X Educar, e agora vou comentar sobre o que li.

Primeiro, fiquei feliz com o fato da reportagem mostrar ambos os lados do problema. Legal. Mesmo assim, ficou muito claro uma coisa: os pacientes que PRECISAM DA TERAPIA MEDICAMENTOSA ficaram sem opções à altura dos medicamentos proibidos. A sibutramina, única droga disponível no momento para esta finalidade formalmente, não tem a eficiência das drogas que foram proibidas.

O uso de medicamentos com outras indicações, de forma off label, com a finalidade de emagrecer, tem crescido muito e isso só mostra o esforço dos médicos (pelo menos dos que trabalham com seriedade) em encontrar alternativas para cuidar de seus pacientes. É isso mesmo, pessoal. Existem pacientes que realmente precisam utilizar medicamentos para alcançar seus objetivos de emagrecimento e se afastar das possíveis consequências negativas da obesidade. Nem todo mundo consegue resolver apenas na base da "força de vontade" e precisamos compreender estas pessoas ao invés de julgá-las. A obesidade é uma doença de difícil tratamento e controle e com profundas implicações psicológicas/neuroquímicas.

Volto a afirmar que nunca fui um grande prescritor destas medicações, mas não posso ficar satisfeito quando vejo que opções terapêuticas válidas foram tiradas das mãos de nós médicos, que ficamos mais limitados ainda em possibilidades de tratamento para nossos pacientes. Acredito muito em mudança de hábitos de vida, exercícios físicos, dietoterapia e suplementação alimentar, elementos nos quais todo meu trabalho se baseia desde sempre, mas sinto falta das medicações para tratar uma pequena parcela de pacientes, que continua órfã.

O maior problema de todos, no meu ponto de vista, é que muitos pacientes estão tendendo a aderir à um suposto último recurso: a cirurgia bariátrica, em suas variadas formas. Este procedimento, fortemente banalizado nos últimos anos, deveria ser alternativa apenas para os casos literalmente perdidos. Deveria ser opção apenas para aqueles pacientes que estão em um estado de obesidade tão absurdo que não tem como emagrecer de outra maneira... que não conseguem mais nem andar direito... que não têm mais nenhuma alternativa. Este tipo de cirurgia, definitivamente, não é para PESSOAS QUE QUEREM GANHAR MAIS 20Kg PARA PODER CONSEGUIR A LIBERAÇÃO DO CONVÊNIO. Provavelmente, não é a alternativa para você que está lendo este artigo.

Não quero dizer, com isso, que nunca haja indicação para a cirurgia. Com certeza, há, mas não tanto quanto tem se realizado a mesma hoje em dia. Se ainda tivéssemos a disponibilidade de utilizar as medicações que foram proibidas, poderíamos evitar inúmeras cirurgias como esta.

Me preocupa, também, perceber uma coisa: o campo está aberto para a nova droga milagrosa que surgir, provavelmente custando uns R$300,00 a unidade ou mais. Sendo liberada, talvez, sem um perfil de segurança ideal, como vimos acontecer com algumas medicações nos últimos 15 anos, caso de alguns anti-inflamatórios e antidepressivos. Isso coloca até a gente pra pensar: "será que não é tudo de propósito?" Quem tem interesse nisso?

Não sei responder a pergunta, mas sei que estou muito interessado em ajudar meus pacientes a viver com mais saúde e adoecer cada vez menos. Estou interessado em encontrar alternativas que valham a pena, e tenho utilizado algumas off label, também por falta de opções. Estou muito interessado em ver um órgão de importância vital para a saúde no país se manifestar de forma mais educativa e fiscalizadora ao invés de uma postura paternalista e castradora. Estou tremendamente interessado em ajudar os pacientes que tenham realizado cirurgias como as citadas acima e que, agora, sofrem com depressão, desnutrição, sarcopenia, "entalos" e outros problemas. Eles podem ter uma vida de melhora qualidade. Estou interessado, e compartilho isso com muitos colegas da área de saúde, em promover saúde sem medo e com educação e esclarecimento DE FATO dos pacientes e profissionais envolvidos.

Sei que tô chato hoje, mas em tudo isso tem, também, um grande desabafo.

Use e abuse de seu médico, seu nutricionista, educador físico e psicólogo. Se informe e sempre veja os prós e contras de todas as alternativas. Se paute por esclarecimento e bons argumentos, pois eles valem muito mais do que cargos e títulos. Procure profissionais que te respeitem enquanto pessoa pensante e dotada de inteligência. Se não quiser te explicar as coisas direito, caia fora!

Desenvolvamo-nos.

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